Afrobeats é, nas palavras da cantora e compositora sul-africana Tyla, uma tendência para agrupar todos os artistas africanos sob um único nome. Ou seja: um rótulo para simplificar como um único género musical contemporâneo originário de África, especificamente da Nigéria e do Gana, qualquer género próximo do pop que surgiu no maior continente do mundo, entre o final dos anos 2000 e o início dos anos 2010. Este estilo musical é uma fusão eclética que incorpora elementos de dancehall, hip hop, R&B, funk, música eletrónica e vários estilos musicais tradicionais africanos, como highlife e fuji.
A música Afrobeats tornou-se popular nos últimos anos, em grande parte graças a artistas como Wizkid, Burna Boy, Davido, Tiwa Savage e Mr Eazi, que trouxeram este som para o panorama musical global. Dadas as suas origens e alcance global, é um “género” que celebra a diversidade da música africana ao mesmo tempo que é influenciado por uma mistura de culturas globais, tornando-o acessível e apelativo para públicos de todo o mundo.
Diferenças entre Afrobeat e Afrobeats
Embora ambos os termos soem semelhantes e partilhem raízes africanas, existem diferenças significativas entre Afrobeat e Afrobeats, ao mesmo tempo que estas diferenças podem ser devidas à simplificação por outras culturas (os Estados Unidos e a Europa principalmente) da música pop africana, que tem muitos géneros musicais e nenhum deles seria Afrobeats (e sim, no entanto, Rumba, Highlife, Makosa, Mapouka, Amapiano, Jazz, Juju ou Fuji).
Origens e pioneiros
Afrobeat
O Afrobeat foi criado por Fela Kuti na década de 1960. Este género funde música tradicional africana, jazz, highlife, funk e cha-cha-cha cubano. Fela Kuti utilizou o Afrobeat como ferramenta de protesto social e político. As suas letras eram frequentemente críticas ao governo e às políticas coloniais na Nigéria e em África em geral.
Afrobeats
Como disse no início, o Afrobeats nasceu no final dos anos 2000 e início dos anos 2010 como uma mistura de vários estilos de música negra contemporânea como o hip-hop, o dancehall ou a música eletrónica. Ao contrário do Afrobeat, o Afrobeats não é utilizado principalmente como meio de protesto, mas sim como música festiva e destinada ao puro entretenimento.
Na verdade, o termo Afrobeats foi criado no Reino Unido pelo DJ Abrantee, de Londres. Para alguns especialistas, trata-se de um neologismo reducionista que se difundiu nos media internacionais e que oferece uma forma estrangeira e conveniente de classificar a música popular africana, quando na realidade é mais uma revisão do Afrobeat original, mas no século XXI, trocando as influências dos anos 60 e 70 pelas influências do rap ocidental e da música pop contemporânea do Gana e da Nigéria.
Em todo o caso, encontrará sempre artistas com um objectivo mais empenhado nesse sentido, embora a dança ou a vontade de ser feliz sejam também, à sua maneira, uma forma de luta social.
Som e composição
Afrobeat
O Afrobeat tem uma estrutura musical complexa com longas passagens instrumentais, solos de saxofone e trompete e padrões de bateria polirrítmicos. É conhecido pelo uso de big bands com secções de metais proeminentes.
Afrobeats
O Afrobeats tende a ser mais curto, com estruturas musicais mais convencionais (verso-refrão-verso), utilizam sintetizadores, produção digital e ritmos cativantes e fáceis de dançar.
No entanto, aqueles que defendem que o Afrobeats é uma forma genérica de se referir a toda a música pop africana feita por africanos defendem o seu argumento com base no facto de não existir uma percussão musical específica que defina o som, ao contrário do Afrobeat, onde existe.
É, em suma, um género sobretudo vocacionado para o consumo de massas, mainstream, agradável e, de certa forma, estival. Daquele tipo que te refresca nos períodos mais quentes. As letras, como no rap ou no R&B, focam-se geralmente em temas de festa, amor, noturnidade e algo gangsta.
Influência cultural
Afrobeat
O Afrobeat está profundamente enraizado na cultura política e social da Nigéria e da África Ocidental. É um reflexo da luta contra a opressão e a corrupção.
Afrobeats
O Afrobeats representa uma nova geração de africanos globalmente conectados. Abrange temas mais ligeiros e tem uma influência mais visível da música ocidental moderna.
Playlist com músicas recomendadas de Afrobeats
Para mergulhar no mundo dos Afrobeats, deixo-vos uma playlist Spotify que criei para a ocasião e que inclui principalmente músicas lançadas entre 2020 e 2024 por artistas africanos e de origem africana, pois, como se trata de um género que é tornando-se cada vez mais popular, consolidou-se fortemente em países como França, Brasil ou mesmo em Itália com Mahmood em Ra Ta Ta e em Espanha com pessoas como Hard GZ em Afrohard ou como Afrojuice 195 e o seu hit José Mourinho, ainda que na forma de Afro trap, cujos ritmos são influenciados principalmente por géneros musicais africanos como o coupé-décalé, soukous e Afrobeats.
Tenha-se em conta depoius de tudo que, enquanto género que agrupa géneros, o Afrobeats oferece uma amálgama de oportunidades musicais que reúne em si uma infinidade de estilos que combinam a sua sonoridade e os seus ritmos descontraídos e melódicos com elementos importantes de géneros reais como o Amapiano, o Alté ou o Afropiano, que podem variar por ter sons mais exuberantes, jazzísticos e descontraídos que muitas vezes incluem ligeiros acordes de piano.
Como o dancehall e o reggae são dois géneros influentes no desenvolvimento dos Afrobeats, há também uma mistura tropical no final que evita limitar a seleção de música em alguns casos e também encontrará alguns artistas de origem jamaicana.
Para além de artistas como Asake, Amaarae, Rema ou Ayra Starr, gostaria também de destacar aqui algumas músicas e artistas recomendados que refletem a diversidade e riqueza do género:
- Wizkid – “Ojuelegba”. Esta música é considerada um clássico dentro do Afrobeats e ajudou a popularizar o género a nível mundial. É uma homenagem à experiência de crescer em Lagos, na Nigéria.
- Burna Boy – “Ye”. Uma mistura de ritmos tradicionais africanos com um toque moderno, esta música é mais um exemplo do estilo único de Burna Boy e da capacidade de fundir géneros.
- Davido – “Fall”. Este single ajudou Davido a ganhar reconhecimento fora do seu país com o seu cativante refrão.
- Tiwa Savage – “All Over”. Uma das principais vozes femininas do Afrobeats, Tiwa Savage mostra a sua personalidade na mistura de influências africanas e ocidentais.
- Mr Eazi – “Leg Over”. Uma faixa que combina os ritmos suaves do highlife com as vibrações modernas do Afrobeats.
A importância da dança no Afrobeats
O Afrobeats evoluiu para se tornar um género predominante em todo o mundo. A mistura de ritmos tradicionais e modernos, com raízes profundas, mas ao mesmo tempo jovens, diversos e dinâmicos, tem dado origem a toda uma relação de elementos diversos que convergem num só.
Porque o Afrobeats é um fenómeno cultural que influenciou profundamente a dança contemporânea com uma expressividade corporal ilimitada. As coreografias de Afrobeats são cheias de energia (que é transmitida), incorporando muitas vezes movimentos que refletem o estilo urbano tradicional africano.
Estilos de dança mais populares
Alguns dos estilos de dança Afrobeats mais reconhecidos e especialmente muito rítmicos são o “Amapiano”, “Shaku Shaku”, “Zanku”, “Gwara Gwara” e o “Azonto”. Estes passos são normalmente vibrantes, utilizando bastante movimento dos pés, das mãos e do tronco, e são pensados para serem executados tanto por bailarinos profissionais (em coreografias) como pelo público em geral em discotecas e festas.
Impacto na cultura popular a nível global
Estes estilos de dança transcenderam África, encontrando o seu caminho em vídeos musicais de artistas famosos em plataformas de redes sociais como TikTok e Instagram, e em competições internacionais de dança. Construíram uma ponte cultural entre África e o resto do mundo, demonstrando a universalidade da alegria e da expressão através da dança.
A controvérsia de Burna Boy sobre a identidade africana e os afro-americanos
Para terminar este artigo sobre o Afrobeats, queria falar sobre uma das principais polémicas em que Burna Boy se viu envolvido nos Estados Unidos, relacionada com os seus comentários sobre a identidade africana e a relação entre africanos e afro-americanos. Em várias entrevistas, Burna Boy fez declarações sobre como os afro-americanos deveriam reconectar-se com as suas raízes africanas e discutiu questões de identidade e herança cultural.
Numa entrevista de 2020 ao programa de rádio “The Breakfast Club”, Burna Boy falou sobre, entre muitas outras coisas, a desconexão entre os afro-americanos e a sua história africana, sugerindo que os afro-americanos têm sido “desligados das suas raízes”. Estas declarações geraram uma resposta mista; alguns apoiaram-no por encorajar a reflexão sobre a ligação entre a diáspora africana e os afro-americanos, enquanto outros o criticaram pelo que consideraram ser uma falta de sensibilidade para com a experiência única e complexa dos afro-americanos.
Ao mesmo tempo, alguns críticos nos Estados Unidos acusaram Burna Boy de se apropriar dos estilos musicais afro-americanos sem reconhecer plenamente as influências ou colaborar com os artistas da mesma forma que deseja que a música africana seja reconhecida.
Estas críticas têm feito parte de um debate mais amplo sobre a apropriação cultural, a autenticidade e como as influências musicais coexistem e emergem em diferentes culturas dentro de géneros musicais que chegam a todo o mundo.
(Madri, 1987) Escritor por vocação, especialista em SEO por profissão. Amante da música, cinéfilo e amante da leitura, mas em modo “amateur”.